Banda de uma mulher só, Harmônicos do Universo lança primeiro EP
É fácil ouvir as belíssimas camadas sonoras criadas pelo Harmônicos do Universo e imaginar uma banda gigantesca tomando conta do palco. Ledo engano. A tapeçaria musical é peça de uma artesã: Desirée Marantes.
Em suas apresentações, a gaúcha usa violino, guitarra, synth e voz que se repetem com o uso de pedais de loop. Feche os olhos e a sensação é de estar viajando para outro planeta (a capa vermelha que ela usa em algumas performances também colabora com a magia criada).
Na semana passada, ela lançou o primeiro registro da banda que foi gravado ao vivo no Estúdio Aurora, em São Paulo onde mora desde 2008.
O EP é um lançamento do selo Hérnia de Discos, criado por Desirée para iluminar e orientar bandas e projetos criados somente por mulheres.
O 120 BPM bateu um papo com a artista.
Como surgem os improvisos do Harmônicos?
De tudo. Parece super pomposo, mas eu realmente sinto isso. As pessoas, o ambiente, como eu estou me sentindo naquele dia, em que tipo de evento eu estou me apresentando. A única coisa que eu tento controlar é o fluxo da apresentação no sentido de, se a improvisação soa meio melancólica, tento fazer com que a próxima seja um pouco mais animada ou então mais espacial. Tento equilibrar para que a construção sempre soe interessante para quem está assistindo.
Suas apresentações são multimídia e colaborativas. Como você chega nestas ideias?
Criar algo na frente de uma platéia me deixa em um estado de alerta onde eu me sinto muito vulnerável. Então busco contar com a participação da platéia para me sentir um pouco mais segura. Foi quando comecei a brisar em várias maneiras para estimular essa interação, desde distribuir cartas com mensagens ora empoderadoras, ora reflexivas, até convidar a platéia a “desenhar” a música.
As apresentações ao vivo precisam encontrar novos formatos?
Não sei se exatamente novos formatos mas acho que é necessário pensar em maneiras para envolver o público. Me parece que as pessoas estão mais fechadas e com receio de se expor (seria um contramovimento a exposição excessiva das redes sociais?). Se as apresentações ao vivo conseguissem tirar mais as pessoas dessas “bolhas” acho que existiria um aumento de interesse em shows. Como artista independente, acho que temos que nos esforçar para lidar com essa equação de tentar fazer um show ao vivo memorável mesmo que não tenhamos nenhuma verba a disposição.
Acredita que o excesso de estímulos visuais e sonoros têm feito o público procurar por uma experiência mais contemplativa?
Não sei. Acho que o excesso de estímulos visuais e sonoros, em doses controladas, tem muito valor. Mas, como fã de compositores como Ólafur Arnalds, Arvo Part, Nils Frahm e Agnes Obel, eu amo músicas que provoquem sentimentos de contemplação e reflexão.
Na sua opinião, qual a importância de ter um selo focado em projetos musicais femininos? Como tem sido a experiência?
O selo Hérnia de Discos nos fez perceber a importância de trocarmos informações e conhecimento e ajudarmos umas as outras a evoluirmos como profissionais e artistas. O mínimo de apoio e suporte que conseguimos dar a essas mulheres já tem feito diferença. Desde bancarmos a pré-produção de um disco, escolhermos uma jovem artista para fazer uma residência artística ou até mesmo algo simples, porém extremamente educativo, como o “Pedalaço das Minas” onde abrimos nosso QG para experimentações com pedais de guitarra. O retorno tem sido bem legal e estamos até tristes de não conseguirmos pegar mais projetos.
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Assista com exclusividade ao vídeo de “Um Dia de Sol no Inverno”. Filmado em Nova York, o clipe é um registro poético dos afilhados de Desirée brincando num parque de diversões.