Com sotaques variados, Pulso ocupa centro de SP
Do carimbó ao techno, a segunda edição do Pulso ocupará o Red Bull Station, no centro de São Paulo, entre os dias 4 e 30 de abril, em busca de um recorte da produção nacional de música eletrônica.
Ao contrário do ano passado, o projeto musical selecionou artistas de diversas regiões do país. A proposta é incentivá-los a criar novos sons e pesquisas, a fim de impulsionar a cena independente.
“O Pulso tem um formato similar a como acredito que deva ser a música e o próprio Brasil: diverso, fértil e livre”, diz Mahal Pita, produtor do trio BaianaSystem e um dos artistas escolhidos para a residência artística no Station.
Os 30 nomes foram selecionados por seis curadores convidados. O 120 BPM falou com três deles: Chico Dub (responsável pelo festival Novas Frequência, no Rio de Janeiro), a radialista gaúcha Juliana Baldi e o artista visual baiano Filipe Cartaxo. Leia entrevista abaixo.
O Pulso este ano teve alcance nacional. No processo de curadoria, vocês acharam algo em comum na produção brasileira de música eletrônica?
Chico Dub: Existem vários pontos em comum, de gêneros a abordagens, processos… Mas acho que seria muito reducionista tentar resumí-los em poucas linhas.
Juliana Baldi: Não acompanhei o processo de curadoria dos outros colegas. Mas quando nos encontramos para conversar e mostrar os times, percebei que a maioria é composta por artistas super completos. Não são só cantores ou instrumentistas, são designers, produtores de festivais e eventos, artistas plásticos, engenheiros de som, gente que faz.
Filipe Cartaxo: O que vejo em comum hoje é justamente a independência na suas produções. Vejo todos produzirem algo particular, com construções e ambientes diversos.
OMELHOR DO PULSO 2015
Ouça as faixas que foram produzidas no Pulso 2015.
Quais são as maiores dificuldades para um artista manter uma postura independente no Brasil? Quais passos ele deve dar para seguir nesta trilha?
CD: A maior dificuldade sem dúvida alguma é viver de música. O primeiro passo é conhecer muito bem os seus pares: músicos, selos, casas de show, festivais, feiras… O segundo é ser empreendedor, ou seja, trabalhar o “fazer”. Não esperar as coisas caírem na sua cabeça, ir a luta. O terceiro é se comunicar também em inglês, sempre. No caso dos artistas do nicho que eu costumo trabalhar, aproximações com outros campos artísticos, são muito bem vindas, pois abrem o horizonte e as frentes de trabalho.
JB: O Brasil é um país absurdamente grande. Infelizmente é muito difícil para artistas que residem fora das grandes capitais conseguir espaço, por conta do empecilho da distância e da centralização das mídias. Muitos acabam migrando para centros maiores em busca de lugares para tocar, para ter o mínimo de vazão a sua obra, o que acaba não fortalecendo o seu local de origem.
Um exemplo disso é o Zudizilla, um dos participantes do Pulso desse ano. Ele faz rap em Pelotas, uma cidade de 300 mil habitantes que, pela escassez de lugares para se apresentar, acaba tocando mais em outras cidades. Mesmo assim, ele resiste em não sair de lá para mostrar que é preciso primeiro fortalecer as raízes para os galhos terem um alcance maior. Se o artista independente trabalha para fomentar a sua própria região, ele cria um ecossistema forte, capaz de sustentar público, casas especializadas e origina espaços propícios para a criação e apreciação dele próprio. A idéia é descentralizar e trabalhar para que o seu núcleo também seja relevante para o cenário nacional e consequentemente fazer a roda girar.
FC: Penso que postura independente tem que estar ligada a proposta artística. É difícil falar em independência uma vez que até mesmo sozinho você depende de algo ou de alguém. A trilha pela postura, pela propriedade do que se faz e pela autenticidade deve ser os passos mais importantes para o artista.