“Tremi e suei frio”, diz Márcio Vermelho sobre primeiro DJ set
Explorando as diversas vertentes da disco, Márcio Vermelho, 35, tornou-se um dos símbolos da Freak Chic, festa do clube D-Edge, onde é residente desde 2010. Sua faixa “Trouble in the Streets” foi lançada em vinil pelo selo alemão The Magic Movement. Neste sábado, ele apresenta a festa ODD, cuja proposta é convidar os artistas a experimentarem novas sonoridades.
Confira o bate-papo que o 120BPM bateu com Vermelho e ouça o set exclusivo que ele fez para o blog.
Seu som tem essa pegada disco/house. De onde surgiu o gosto pelos grooves?
Desde criança ouvi muita música dançante, na minha infância eu e meus amigos organizávamos grupos de dança e festinhas nas garagens das nossas casas. O som era basicamente old school rap e música pop, que tinha bem mais groove naquela época.
E você lembra do som que rolava nas festinhas?
Sempre tive a sorte de ter amigos mais velhos que eu, e um deles, que também cuidava de uma rádio pirata no bairro onde eu morava, era fanático por Kurtis Blow e Sugarhill Gang. Eu tinha um grupo de dança também, que gostava de um “dance” mais pesado. Acho que nunca vi um disco causar tanto furor como o “Pump Up The Jam”, do Technotronic. Sabíamos todas as letras e criamos coreografias para cada música desse disco!
Quando você começou a se interessar por discotecar?
Naquela época era normal ser DJ nas festinhas de casa, gravar fitas K-7 para trocar ou dar de presente, comprar discos e mais discos. Só comecei a pensar em djing como profissão muito tempo depois, quando me mudei para São Paulo, em 1999, e comecei a frequentar festas de música eletrônica underground.
E teve algum momento específico em que você teve um clique e descobriu que tocar era o que você queria fazer?
Depois de um tempo indo a várias festas da cidade descobri o som que fazia a minha cabeça: os sets que os DJs Pareto e Morcerf tocavam, um mix de house, tech house e breakbeats que se diferenciava de tudo o que já tinha ouvido. Essa mistura de estilos e a maneira de tocar foram os elementos que mais me instigaram a pesquisar mais a fundo discos desses estilos e a querer tocar “de verdade”.
Como foi seu primeiro DJ set? Teve Technotronic?
Tenso. Tremia e suava frio, principalmente porque os DJs que mais me influenciaram estavam na pista. Mesmo assim acho que me saí bem, não errei muitas mixagens e escolhi bons discos. Não, não teve Technotronic! Um dos discos que lembro bem do primeiro set é do Chicken Lips – Unreleased Dubs, projeto que ainda gosto muito – sempre tem alguma faixa no case.
“Eu aprendi a mixar nas boas e velhas MK2 da Technics de amigos que às vezes tinham paciência de me explicar e monitorar as primeiras ‘sambadas’”.
Você já dividiu cabine com o Juan McLean, Andy Butler… O que você viu e aprendeu com estes caras?
A experiência de dividir momentos de pista, descobertas de novas músicas e troca de novos sons. O Andy Butler tocou pela primeira vez em São Paulo na festa Avesso, que fiz por alguns anos no Vegas, e foi uma noite inesquecível. Anos depois, na última passagem por aqui, tivemos mais tempo para conversar e ele me convidou para lançar faixas pelo selo dele, o Mr. Intl, e uma possível parceria com o Hercules And Love Affair, para um remix.
Quando você achou que era a hora de começar a fazer seus próprios sons?
Desde que aprendi a usar o Ableton Live gosto de fazer edits pra tocar. Começar a produzir faixas originais aconteceu naturalmente. Pra isso, precisava de mais tempo, estudar, retomar aulas de música, me concentrar. Foi então que deixei o trabalho com fotografia e me joguei de cabeça, não só na produção musical, mas na busca de outros horizontes e linguagens audiovisuais.
De onde vêm as ideias na hora de compor uma música? E quais artistas influenciam seus projetos atuais?
Eu tenho uma influência muito forte dos sons dos 80, principalmente os beats, acho que acabo trazendo quase sempre características desses sons para as minhas produções. Faço muito isso com o Sphynx, o meu projeto com o Pedro Zopelar, produzimos faixas que têm influências do funk mais lo-fi, electro, balearic… O processo sempre parte de uma ideia, mas nunca tem uma fórmula certa. É partir da ideia original e deixar rolar.
Você toca há muitos anos na Freak Chic, no D-Edge, que é uma casa grande e conceituada, mas recentemente tem feito sets na Laço, que é um projeto mais underground. Você acha que a música eletrônica e os artistas que estão produzindo coisas no gênero estão acompanhando essa redescoberta da cidade?
Propostas nessa direção têm surgido na cidade, assim como o fortalecimento das festas de rua. A música eletrônica está presente em muitos desses núcleos e acredito que muita gente tem vivenciado esse momento sim, que está cada vez mais forte. O público é mais democrático e por isto acredito que nessas festas temos mais liberdade para experimentar.