Róisín Murphy, a antidiva
Róisín Murphy precisou de oito anos para repensar a imagem de disco-diva que embalava “Overpowered”, o álbum de 2007. O disco homenageava o período de euforia musical que contagiou Nova York nos anos 70.
Numa evolução natural, o foco em “Hairless Toys” (2015) é a house music e os temas que a cantora aborda remontam à época em que o gênero explodiu. O recorte agora é na ball scene abordada no (já) clássico documentário “Paris is Burning” de 1990.
Composto em sua maioria por gays, negros e latinos na Nova York do final dos anos 80, o movimento era um convite aos marginalizados a se expressarem livremente. A cena deu origem a vários hits essenciais da house music, mas “Gone Fishing”, a faixa-tributo, subverte as expectativas.
É uma balada melancólica e arrastada, com versos como “My mother’s mistake/My father’s heartbreak”. Murphy faz uma espécie de anti- “Vogue”, hit da Madonna no ínicio dos anos 90 que foca justamente o aspecto escapista da cena. “Eu queria que a canção fosse quase uma versão musical da Broadway desta história”. explicou a cantora.
A festa começa em “Evil Eyes”, quando a ex-vocalista do Moloko resolve chegar ao baile acompanhada do funk robótico do Parliament misturado a uma base italo-disco.
“Exploitation” (espécie de deep house minimalista) mantém os BPMs e a elegância, mas o refrão sussurrado e o arranjo desafinado do sintetizador ressuscitam a melancolia. A faixa tem quase dez minutos de abdução.
“Eu não virei uma popstar e ninguém sabe o porquê!”, disse Murphy ao site Pitchfork sobre “Overpowered” não ter estourado.
Se as faixas do disco anterior eram mais palatáveis, nesta continuação você não sabe exatamente para qual caminho a música vai te levar.
Fazer dance music de forma menos instintiva e mais cerebral pode ser um tiro no pé, mas “Hairless Toys” mostra que a cantora se destaca justamente nesta categoria: a de antidiva.
HAIRLESS TOYS
ARTISTA Róisin Murphy
GRAVADORA PIAS
QUANTO R$ 31, em média
AVALIAÇÃO ótimo