The Chemical Brothers analisam a dance music em novo disco
A dupla The Chemical Brothers passou cinco anos trancafiada no sul da Inglaterra, em meio a sintetizadores analógicos e alguns colaboradores, para produzir “Born in the Echoes”, seu oitavo disco de estúdio.
“Às vezes você se sente desamparado, mas segure firme que a ajuda está a caminho”, repete uma voz logo na abertura. “Sometimes I Feel So Deserted” é messiânica e reflete o objetivo do duo de trazer urgência e criatividade para a dance music.
Ouça “Sometimes I Feel so Deserted”
O sermão é ancorado nos primórdios da acid house (um braço do gênero, marcado por timbres de sintetizadores mais psicodélicos). “Go” aposta numa linha de baixo que lembra os grooves robóticos da banda Zapp, e na canção a dupla revisita o próprio passado: “Hey Boy, Hey Girl” é ecoada nas rimas do rapper Q-Tip.
Ouça “Go”. O vídeo foi dirigido por Michel Gondry.
Em “Under Neon Lights”, os vocais da musa indie St. Vincent reverenciam os “anos Moroder” de Donna Summer. Os loops descompassados de bateria e os arranjos fora da métrica anunciam a segunda metade do disco.
“Taste of Honey” é construída com zunidos artificiais de abelhas e no final da faixa uma guitarra invade a colmeia. “I’ll See You There” tem batidas quebradas e uma levada que remete aos anos de krautrock do Kraftwerk.
Nas duas últimas faixas, eles baixam a guarda: “Radiate” usa um sax para invocar uma atmosfera ambient house (leia-se Vangelis) e “Wide Opening” abranda os vocais do Beck, coroando o clima de fim de festa.
Nesta compilação de músicas novas, o duo britânico encontrou uma missão. “Queremos fazer música que encha a sala de vida”, diz Ed Simons, uma das cabeças do projeto. “Atualmente parece que o groove sumiu da dance music, é como se James Brown tivesse sido apagado”, completa Tom Rowlands, a outra metade.
É a mistura de conhecimento e paixão pelas raízes da música eletrônica que torna o álbum interessante. A banda busca nos próprios ecos um caminho para entender como o gênero que eles ajudaram a popularizar virou este monstro gigantesco. A solução encontrada está nos timbres estranhos e nos momentos “errados” espalhados pelas onze canções.